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QUIMERA -
Temporalidades transversas
Jandira Lorenz

Jandira Lorenz nasceu em Dom Feliciano, no interior do Rio Grande do Sul, numa aldeia de origem polonesa, em 05 de março de 1947.

Em 1966 e 1967 estudou arte no curso de Belas Artes, na UFRGS, no Rio Grande do Sul. Entre 1968 e 1971 estudou na Fundação Armando Álvares Penteado, FAAP, em São Paulo.

Em 1975 concluiu mestrado na Escola de Comunicação e Artes, na Universidade de São Paulo, ECA-USP.

Enquanto professora, Jandira contribuiu na estruturação do agora Curso de Arte Visuais, antigo Curso de Educação Artística. Foi a primeira chefe de departamento do curso de Educação Artística. Atuou a partir de 1976 nas disciplinas de História da Arte e Fundamentos da Linguagem Visual. Ministrou disciplinas na área da Gravura e, posteriormente, assumiu as disciplinas de Desenho, linguagem que a artista considera como sua primeira paixão. Construiu sua carreira profissional como artista, pesquisadora e professora, sendo a primeira professora do curso a ter Mestrado. Participou das diversas transformações ocorridas dentro do departamento, das mudanças físicas do espaço às reformulações curriculares.

Com a criação de um espaço dentro do departamento de Artes Visuais destinado a ser uma galeria de arte, os docentes e discentes prestam a justa homenagem nomeando Galeria de Arte Jandira Lorenz do Departamento de Artes Visuais do Centro de Artes da UDESC.

O reconhecimento e a importância de sua trajetória é, também o resgate da importância histórica do curso de Artes Visuais, não só em Florianópolis, mas como um espaço de referência para o nosso estado.

A homenagem ramifica-se em diversos aspectos, entre eles, queremos dar destaque ao fato de Jandira Lorenz ser uma mulher, artista, pesquisadora, professora e estar com seu nome ligado a uma galeria de arte, o que por si só, é de extrema relevância, haja vista que a maiorias das galerias da cidade e também do estado receberam nomes de artistas homens, como: Vecchietti, Meyer Filho, Paulo Gaiad, Henri Laus, Fernando Beck, Didi Brandão, José Cipriano, Victor Meirelles, Franklin Cascaes. As mulheres artistas sempre estiveram presentes nas artes, Jandira fez parte da formação de muitas delas. Algumas delas também presentes no departamento, atuando ativamente. De certa forma, podemos dizer que esta homenagem configura-se também como uma atitude política diante do cenário artístico catarinense.

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Créditos do retrato: Foto de Luiza Lorenz

Apresentação das Obras

As obras de Jandira Lorenz aqui apresentadas oferecem a nós, público fruidor, inúmeras camadas sensíveis que acionam nossas percepções, fazendo-nos articular diálogos entre nosso próprio mundo de lembranças e referências imagéticas fabulares e os da artista. Isto porque cada uma das obras de Jandira constitui-se daquilo que é mais caro a ela, a imaginação criadora.

Os desenhos advindos de um mundo onírico singular, sopram-nos atmosferas de lembranças, como se estivéssemos presentes por um momento naquele espaço habitado pela artista enquanto traçava e dava formas as figuras imaginadas, as paisagens que formavam-se por associações de elementos imagéticos vindos de vários tempos, diversos mundos que não vivemos, nem ela, mas que extraídos da história da arte, da literatura, da mitologia, das memórias e lembranças de infância, também do seu espaço habitual de observação da natureza vegetal e animal, instiga em nós uma irrealidade possível de sensações e percepções humanas.

Vanessa Bortucan, ao escrever sobre a obra gráfica da artista, nos diz que, “pelo detalhe, o observador atento pode ter acesso às janelas que afiguram tempos. É o tempo e sua configuração na memória da artista que fará aparecer as janelas e consequentemente, os universos ali possíveis.”

Jandira constrói universos possíveis e imaginários. Elabora cuidadosa e detalhadamente uma arquitetura sonial universal com linhas e hachuras fazendo-nos deparar com colunas, janelas, frontões e divisórias de supostas habitações que apesar de estarem distantes por camadas de tempo e memória, formam ali nos limites do papel, um universo atemporal, enigmático, misterioso e introspectivo.

Podemos perceber uma aparente condução narrativa em uma fala silenciosa intensa, determinada e insistente, herança atribuída a referências juvenis, mas que se rompe pelas variações temporais e espaciais presentes em todos os trabalhos, evidenciando a intenção da artista em conduzir elementos do seu imaginário, sempre a uma outra paisagem, levando-nos a também pensar em dinâmicas próprias que transfiguram a realidade.

Ela cria rastros de uma obra a outra, de um desenho a outro, forma elos significativos entre imagens recorrentes moventes como o caramujo e a lesma, a esfinge, o elefante, a menina. Estas são somadas às interferências do presente, do seu cotidiano no ambiente doméstico, na imersão ao contatar-se com a natureza.

A luz é um elemento precioso em seus desenhos e gravuras, enquanto das entrecruzadas linhas que formam a escuridão emergem as sólidas montagens arquitetônicas, ou as enigmáticas figuras, por vezes, a intensa e expressiva luz desprovida de linhas incide sobre alguns trabalhos, como fosse um potente refletor que ao iluminar faz vibrar toda a representação cênica contida naquela imagem.

Entre o preto e o branco, o lápis e o nanquim, o bico de pena, o papel como extensão do corpo-pele, os pensamentos da artista são gravados, marcando seus movimentos entre universos onde memórias levam a lembranças, sonhos efetivam-se em linhas e hachuras. As estórias são articuladas de tal modo que seu imaginário dispara, passamos a perceber significados até nos mínimos detalhes, onde o universo onírico de paisagens e elementos moventes irradia forças de criação pulsantes, que nos transportam da realidade para imaginar e sonhar.

Jandira Lorenz faz do desenho a sua linguagem, é através dele que ela nos fala da sua particular experiência de vida vivida. Desde sua infância, o desenho é o lugar das criações e fabulações. Em seu processo formativo interessou-se pela escultura, gravura e outras técnicas que, ainda hoje, são matéria para seus desejos de produção, porém, o desenho afirma-se como um companheiro diário, que dá forma a seus pensamentos, configurando-se como a manifestação de suas ficções sobre o mundo e as coisas.

A presença da artista é percebida e evidenciada nos mínimos detalhes que nos são apresentados. Com seu olhar sensível parece tudo querer representar e nos fazer enxergar, abrindo passagens para as subjetividades emanarem das suas observações, anunciarem os personagens imersos na fabulação entre tempos e espaços, posicionados em estado de contemplação e fruição da paisagem, concentrados no ritmo desacelerado e distendido aparentemente característicos da personalidade da artista e tão emergencial nos tempos de hoje. É preciso ir manso, contemplar o tempo e as presenças, observar e sentir-se parte da natureza que nos cerca e tanto nos dá.

Texto: Juliana Crispe, Marcello Carpes e Sandra Favero.

Exposição

galeriajandiralorenz.ceart@udesc.br

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Referências bibliográficas

 

Catálogo O universo onírico de Jandira Lorenz. SESC/SC. Com textos de:

Fernando Boppré – Jandira Lorenz: um albatroz no cotidiano

João Otávio Neves Filho [Janga] – Desenhando desde criança

 

Juliana Crispe – Rede choque apresenta Jandira Lorenz. São Paulo: Galeria Choque Cultural, 2020. https://www.choquecultural.com.br/pt/2020/11/28/rede-choque-apresenta-jandira-lorenz/

 

Dissertação de mestrado:

Oliveira, Vanessa Bortucan de. A sobrevivência das imagens em Jandira Lorenz: uma poética da montagem. Orientador: Sandra Makowiecky. Universidade do Estado de Santa Catarina, Centro de Artes, Programa de pós-graduação em Artes Visuais, Florianópolis 2014.

 

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Vídeo: SESC, O Universo Onírico de Jandira Lorenz.

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